Por que os jornalistas só falam da série The Paper?
Quem é da área da Comunicação, precisa assistir à série The Paper. Mas por que vale a pena? Quais são os destaques? Saiba tudo!
Da Redação, publicado em 24/10/2025 e atualizado hoje.A série The Paper - criada por Greg Daniels e Michael Koman - é um mockumentary (gênero de cinema ou televisão que imita o estilo de um documentário para contar uma história fictícia, geralmente com tom de comédia ou sátira) ambientado em Toledo, Ohio, centrado no jornal fictício Toledo Truth Teller (TTT) - na versão em português, tem o nome de Jornal da Verdade. O enredo começa com a chegada de Ned Sampson (interpretado por Domhnall Gleeson) como editor-chefe, com a missão de reviver o jornal que está em declínio, abandonado pela dependência de conteúdo de serviços de “wire” e click-bait, e agora pertencente à corporação Enervate - mesma empresa que adquiriu a antiga Dunder Mifflin do universo de “The Office”.
O núcleo da redação é composto por funcionários despreparados para jornalismo - muitos vindos como “voluntários” de outras áreas da empresa - e por exemplo a editora-geral Esmeralda Grand (Sabrina Impacciatore), que resiste à mudança e à nova ordem e serve como antagonista interna.
Chamou muito a atenção de jornalistas e comunicadores. Porque retrata o atual momento de alguns veículos que comunicação que pararam no passado.
Qual é a mensagem da série?
A série opera em dois níveis: primeiro, como comédia de ambiente de trabalho - no formato que ficou popular por “The Office” - e segundo, como reflexão sobre o estado atual do jornalismo, sobretudo o jornalismo local ou impresso.
A abordagem satírica mostra um jornal em decadência, que dependia de repassar notícias prontas e está tentando reencontrar relevância. Isso aponta para a mensagem de que o jornalismo tem valor, mesmo quando parece ultrapassado ou “com dificuldades”.
Outro eixo: a série critica a lógica do click-bait, da mercantilização da notícia, da interferência corporativa e da falta de investimento real em reportagens de base.
E ainda: há uma mensagem esperançosa - mesmo com poucos recursos, com voluntários ou pessoas “fora da especialidade”, ainda há a chance de produzir algo significativo - mesmo que seja difícil. Por exemplo, uma fala de Ned no episódio piloto: “se você já quis saber primeiro o que está acontecendo no lugar onde você vive, ou garantir que quem dirige sua cidade está fazendo o que disse que faria, ou se você torce pelo azarado que quer dar a volta por cima” - isso condensa essa mensagem de propósito jornalístico.
Assim, a série não só diverte como também levanta questões: Por que importam os jornais locais? O que acontece quando o jornalismo se torna dependente de cliques ou é engolido por interesses corporativos? A mensagem: que há valor em apurar, em rastrear histórias, em conectar a comunidade — ainda que esse valor esteja sendo esquecido.
O que dizem os críticos?
O desempenho da série foi misto, porém com destaques positivos:
Por que ela é atual? Por que jornalistas só falam dela?
Aqui seguem os principais pontos que conectam “The Paper” com os desafios reais da mídia:
A série sugere que apurar o que acontece “na sua cidade” (como infraestrutura, contratos públicos, histórias não divulgadas) é importante. Em tempos de desinformação, isso faz eco.
Cenas marcantes da série The Paper
No episódio piloto, Ned entra no prédio do Truth Teller e, em seu discurso aos voluntários, fala sobre a antiga importância do jornal: “se você já quis ser a primeira pessoa a saber o que está acontecendo no lugar onde você vive…” - essa cena sintetiza a crença no jornalismo.
Em “Churnalism” (episódio 6), a redação testa produtos para review, após Ned tomar as rédeas de uma matéria de advertorial que Esmeralda começou - isso critica da forma mais direta possível a junção entre jornalismo e publicidade.
Episódio 8, “Church and State”, em que Mare descobre uma história que coloca o jornal contra sua própria dona (Enervate) — esse embate entre redação e proprietário corporativo é central para o tema da autonomia.
Final da temporada, episódio 10, “The Ohio Journalism Awards”, em que o jornal, de forma improvável, é indicado e vence prêmios — apesar de tudo, o simbolismo da vitória de um pequeno jornal local perante os gigantes resume a esperança que a série carrega.
'Uma redação que já foi grande e tenta sobreviver em meio à falência iminente. Série engraçada, mas também desconfortável. Por trás das piadas e situações absurdas, está uma reflexão bem real sobre o futuro do Jornalismo. O clique vale mais que o conteúdo?'
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