Filho único é solidão? Tenha irmãos de coração

Fiz uma homenagem aqui no Dia do Irmão falando sobre ter irmãos nessa vida. Mas neste artigo quero falar sobre filho único. É solidão mesmo? Compartilho trechos da coluna de Gregório Duvivier na Folha de SP em 28 de outubro de 2020. O escritor tem uma definição linda sobre a importância de termos irmãos. Também entrevisto o psicólogo Fábio Soares que conta curiosidades sobre filhos únicos. Lembrando que nosso canal Pais e Filhos é aberto para comentários e participações. Vocês, pais e mães, o que acham dessa 'obrigatoriedade' de ter o segundo filho?

Começo com a coluna de Gregório Duvivier. Ele começa brincando com o pensamento das crianças, na infância, de que ser filho único pode ser melhor. Afinal, todos os presentes serão meus. E todo o mimo de papai e mamãe não será dividido com ninguém.

Na minha infância, éramos quatro irmãos e eu tinha um sonho: ser filho único. Calculava que, se não fossem meus irmãos, teria tudo em triplo: carinho, atenção, brinquedos. Mas em seguida ele destaca um ponto fundamental. Os irmãos são as pessoas que entendem exatamente quem somos. O irmão é a única pessoa do mundo que sabe o que significa ser filho dos seus pais e conhece esse drama em toda a sua complexidade. Ninguém mais serviu de cobaia pra essa experiência. Levando em conta que toda infância traumatiza, o único alívio que podemos dar a um filho é um companheiro de traumas (...) Só o irmão tem o alvará que permite espinafrar sua mãe, por ser também mãe dele (...) O filho único está condenado a levar pro túmulo a experiência ímpar que só ele viveu. Deve ser como assistir a uma série que ninguém mais pode ver.

E encerra de forma magistral. Ah, minha dica é que vocês se tornem assinantes e que confiram o conteúdo na íntegra. É belíssimo. 

Quando você está sozinho, tudo é alucinação —um irmão serve pra garantir que você não está delirando. Todo o mundo deveria ter direito a pelo menos um parceiro de jornada.

Muito interessante, né? Conversando com mães que têm só um filho, percebo também uma certa cobrança da sociedade para a chegada da segunda criança. Comigo foi assim. Tive minha filha e logo os mais próximos já estavam me perguntando: quando vem o segundo filho? Pois é. Só o pai e a mãe sabem o quanto é difícil ter um filho. E só eles podem responder a essa pergunta. Não acho legal essa pressão. E também não concordo que todo filho único é solitário. Acho que é possível contornar, sim. Apesar de valorizar muitíssimo a presença de irmãos. Enfim, olhem só o que a psicologia fala sobre isso:

'Existe a síndrome do filho único. E muitas pessoas relatam esse caso de solidão. Se a mãe está doente, por exemplo, com quem ele pode dividir essa angústia? Esse seria um exemplo mais radical. Mas, sem dúvida, os filhos únicos têm essa realidade. E aí, na minha sugestão, cabe aos pais o trabalho de trazer novas pessoas para esse círculo social da criança. E que ela possa criar seus irmãos de coração com a vida. Isso é fundamental', avaliou.

Filho único é um assunto bem complexo. Acredito muito que leitura e informação correta, com os profissionais corretos, podem sempre contribuir muito. Ilustro este artigo com uma foto do canal Mamãe Felícia, do YouTube, um canal delicioso de acompanhar também. Obrigada e até a próxima.