CelebridadesColuna SocialEntretenimentoFilmesMúsicaPais e FilhosBicho Animal
Reprodução/ YouTube

Por onde anda o ator Claudio Fontana? Ouça entrevista

Papacast entrevista ator e produtor de teatro Claudio Fontana. Imitação de Fernando Collor em Fera Ferida. Lição de vida com Marcelo Rubens Paiva. Reflexões sobre teatro, TV e cinema. Ouça

Por Silas Pereira, publicado em 04/10/2020 e atualizado hoje.

O Papacast entrevista o ator e produtor teatral Claudio Fontana. Natural de São Paulo, Cláudio de Toledo Fontana estreou na televisão em 1992 na novela Deus Nos Acuda, de Silvio de Abreu, na Rede Globo. Por onde anda Claudio Fontana? Acompanhe a biografia do ator e produtor nesta entrevista exclusiva. Você pode ouvir o podcast de OsPaparazzi nas principais plataformas de podcasts.

Quem é Claudio Fontana?

A data de nascimento é 3 de julho de 1962. Estudou economia. Trabalhou com marketing. Foi atleta do time de atletismo do Esporte Clube Pinheiros. Mas a grande paixão da vida é o teatro. Nas novelas da Globo, atuou em Fera Ferida, Um Só Coração, I Love Paraisópolis, entre outras. Na Record atuou na novela Rei Davi. No SBT atuou em As Pupilas do Senhor Reitor. No cinema nacional, interpretou Zico com a camisa do Flamengo.

A experiência como produtor de teatro é premiada e reconhecida em todo Brasil. Mas o que Claudio Fontana fez com os teatros fechados na pandemia? Qual é a sua opinião sobre as novelas de hoje em dia? Você sabia que ele protagonizou uma das primeiras imitações de presidentes brasileiros na televisão aberta? Ele imitou Fernando Collor de Mello em Fera Ferida, na Globo. A mensagem final da entrevista é emocionante.

Com vocês... o artista Claudio Fontana. E viva a arte!

Entrevista Claudio Fontana no Papacast

Primeiros trabalhos da carreira

Claudio Fontana: Estreei numa novela do Silvio de Abreu, Deus Nos Acuda. Com carinho todo especial, porque ele me viu no teatro, onde eu também estreava com um espetáculo. Dirigido pelo Gabriel Villela. A peça se chamava Vem Buscar-me que Ainda Sou Teu. Ganhei um prêmio revelação como ator nessa peça. Silvio de Abreu e Jorginho Fernando (Jorge Fernando) assistiram e foram me chamar para a novela. Foi um personagem delicioso, se chamava Igor, filho de Francisco Cuoco. Acabamos fazendo uma grande amizade. No elenco tinha Dercy Gonçalves. Era uma novela deliciosa, das sete, com a alegria do Jorge Fernando. E ele me ajudou muito nesse primeiro trabalho. A lidar com câmera e tudo. Depois voltei para o teatro. E aí a televisão me chamou para a novela das oito.

'O Aguinaldo Silva sempre tem um apreço por realidade fantástica. As novelas dele são sempre gostosas de fazer. Foi A Fera Ferida. Os personagens são lindos. Fazia um par romântico com a Deborah Evelyn, filho da Suzana Vieira. O personagem foge da cidade e depois volta como prefeito. Eu fiz um trabalho muito gostoso de candidato a prefeito, imitando o Fernando Collor na época. Com ajuda do Dennis Carvalho. Era o Áureo Poente Pompílio de Castro. Depois disso voltei ao teatro. E aí vim para São Paulo num projeto do SBT, abrindo um núcleo de teledramaturgia muito bacana. Gravamos As Pupilas Do Senhor Reitor. É uma das melhores recordações que tenho da TV. Personagem andava num cavalo sem cela. Não dormia debaixo de teto. Dormia sempre ao relento porque queria ser livre. Foi um dos personagens mais bonitos que fiz'.

Popularidade com as novelas na Globo

Claudio Fontana: Sempre que você está no ar, ganha uma popularidade maior. Quando está fora do ar na TV, as pessoas até perguntam: ué, você não está trabalhando? Televisão tem isso de trazer sucesso, fama, quando tem trabalhos sendo exibidos. O auge é o trabalho na novela das oito. Fera Ferida. As novelas tinham mais audiência naquela época. Foi muito gostoso de fazer. Depois fiz Um Só Coração, que também marcou, uma minissérie histórica. Tipo de produto que a televisão deixou de fazer infelizmente. Era importante para a educação do país você ter esse tipo de minissérie.

Maior orgulho da carreira: teatro

Claudio Fontana: Olhando para trás, acho que meu maior orgulho como ator são os trabalhos que fiz no teatro. Na televisão, na verdade, é a arte da indústria. Enquanto que o teatro é a arte do ator. E o cinema é a arte do diretor. Na televisão você agradece os personagens bonitos que fez. Guardo com carinho todos os trabalhos. Recentemente fiz no Discovery Channel também uma série sobre médicos contando casos especiais de suas vidas.

'Minha biografia é como ator no teatro. As produções que realizei. Porque me tornei um produtor de teatro para fazer minha carreira. Para não ficar esperando o telefone tocar. Construí projetos com pessoas e com histórias com as quais eu tenha afinidade. Minha biografia como ator, os orgulhos são os trabalhos no teatro'.

Trabalho de produtor teatral

Claudio Fontana: Trabalho de produção ele possibilita você trabalhar como ator. Produzindo seus trabalhos, formatar seus projetos, convidar pessoas, autores. E me tornei produtor porque terminei uma novela e estava com a Luciana Braga. E a gente no camarim estava desempregado. E resolvemos fazer nossa vida acontecer. Não ficar esperando convites. Ligamos para autores de teatro. Pedimos textos para vários. Montamos uma produtora, fomos atrás de patrocínio. E desde 1996 essa produtora ainda funciona. É o meu ganha-pão, onde faço minha carreira acontecer. Logicamente, para ser produtor você precisa conhecer direito, contabilidade, leis de incentivo, captação de recursos, enfim, coisas um pouco mais chatas. Mas tudo vale a pena.

Na foto temos Claudio Fontana e Paulo Autran no teatro.

'Quando você vê a cortina abrir, os colegas bem pagos, os técnicos bem pagos. Trabalhando num texto clássico, teatro de pesquisa. Tudo vale a pena. Mas a produção cultural hoje no Brasil é muito difícil. Ela não é vista como política de estado. Mas como política de governo. A arte e a cultura precisam ser subsidiadas e incentivadas. Sem cultura, não há formação de um povo, identidade de um povo. Infelizmente estamos passando por um período bem difícil para a cultura brasileira'.

PublicidadePublicidade

Teatro com as cortinas fechadas

Claudio Fontana: Teatro na pandemia está sofrendo muito, paralisado. Todos nós artistas estamos há seis meses sem poder trabalhar, com os teatros fechados. E nada acontece. Se não fosse a ação de duas deputadas para criar uma lei emergencial, talvez não tivesse ajuda até hoje. A Lei Aldir Blanc está começando a chegar. Mas não resolve o problema. Infelizmente, não tem como resolver isso. A não ser com a vacina. Formas de lives são paliativas. Teatro só existe com o contato do ator com o seu público presente. Experiência única que não existe nem na TV, nem no cinema. Acho que voltaremos ao nosso normal com o final da pandemia.

Na foto do Instagram, temos Claudio Fontana e Laura Cardoso no teatro.

Rotina de criação na pandemia

Claudio Fontana: Estava para estrear um novo espetáculo antes da pandemia. Tudo foi paralisado. Os patrocinadores todos esperando. Na quarentena, tenho trabalhado como produtor, escrito novos projetos em editais, indo atrás de patrocínios. Como ator, estou paralisado realmente. Tenho feito nada. Alguns atores têm feito lives ou teatro através da internet. Mas não tenho vontade de fazer isso. Graças a Deus tinha uma poupança um pouco mais gorda e estou esperando as coisas voltarem. E tem muita coisa boa nessa área de lives.

Dicas para os apaixonados por teatro

Claudio Fontana: Uma das vantagens do ator é você poder trabalhar até os 90 anos. Eu tive o privilégio de trabalhar ao lado do Paulo Autran, num espetáculo só eu e ele em cena. Tinha uns 80 e poucos anos. E estava no maior vigor. Entrava em cena e parecia um menino. Acho que o ator pode trabalhar até quando ele tiver forças e sonhos. Acho que a gente pode fazer teatro sempre. Tenho vontade de fazer ainda muita coisa no teatro brasileiro. Meu próximo projeto é um texto de Luigi Pirandello, Henrique IV, um texto lindo sobre o que nós somos e o que nós parecemos ser. Os personagens que nós seres humanos adotamos no dia a dia. Texto lindíssimo que vale a pena ser montado. Dica que deixo para quem é apaixonado por teatro é continue sonhando. Essa é a nossa sina. É o nosso poder. O teatro é transformador, ele transforma o público, emociona. E isso é impagável.

Opinião sobre novelas de ontem e de hoje

Claudio Fontana: As novelas sempre foram iguais em termos de estrutura. São folhetins. E falam as mesmas coisas sempre. Sobre o dia a dia das pessoas. Não sei se eram melhores, não. Talvez o público gostasse mais porque era um programa da família assistir novela. Hoje as novelas perderam um pouca a força, o ibope. Apareceu TV paga, Netflix, séries.

'Eu gosto do formato de séries com poucos capítulos. Novela o ritmo de produção é muito intenso. E isso prejudica um pouco a qualidade. Mas a novela brasileira tem tanta força. Sempre resistiu. Talvez sobreviva mais um pouco. Mas tem muita coisa boa sendo produzida. Muito conteúdo nacional. Acho que tem muito espaço para os atores brasileiros'

Novela clássica: Fera Ferida

Claudio Fontana: Fera Ferida é um clássico. Por causa desse universo fantástico do Aguinaldo Silva. Foge um pouco do realismo, do dia a dia. São mais gostosas de ver. Novelas de vampiros. Que Rei Sou Eu?, novela linda. Meu Pedacinho de Chão, linda. Algumas novelas nos marcam porque fogem do cotidiano. Eu acho que bastidor do meu personagem foi interessante, porque ele saiu... ficou um tempo fora da novela. E volta como prefeito.

Claudio Fontana no início da carreira na novela Fera Ferida no canal VivaFoto: Reprodução/ YouTube

'E a ideia de se imitar, parodiar, satirizar o Fernando Collor. E eu fiz um trabalho de pesquisa do Fernando Collor, o modo de falar. Foi um trabalho fantástico como ator. Artisticamente foi uma sacada muito bacana do Dennis Carvalho'

Momento do cinema nacional

Claudio Fontana: Cinema nacional também perde com essa falta de incentivo à cultura. Sem incentivo, não há como. Arte precisa ser subsidiada. Ela não é um gasto. Ela produz renda, emprego. A indústria criativa gera emprego e renda. A Festa Literária de Paraty, a cada 1 real investido, através de lei de incentivo, 15 reais voltam para a economia, como hospedagem, alimentação e etc. Esse conceito de que artista é vagabundo e gasta o dinheiro subsidiado é um absurdo. Então é preciso divulgar esse conceito de indústria criativa, que gera renda, emprego.

Curiosidade da carreira: atletismo?

Claudio Fontana: Sempre conto esse episódio. Nunca quis ser ator e foi por acaso. Fiz atletismo no Clube Pinheiros. E uma vez contratou um técnico oriental. Nós atletas não gostamos muito daquilo, tinha muita musculação. Numa das discussões com o técnico, vi um cartaz: procura-se ator para o teatro amador. Aí como estava chateado com o técnico, falei: quer saber? Vou ser ator. E aí subi e tinha um grupo ensaiando. Sob a coordenação do Silnei Siqueira, que é um diretor paulista muito respeitado no teatro. Estava precisando de uma pessoa como eu. Acabei gostando. E aí fazia teatro amador. Do estudo, primeiro, conhecendo obras e dramaturgos. E poder trabalhar emoções, personagens, eu fiquei apaixonado por isso. Era gerente de marketing também de uma indústria química.

História emocionante

Claudio Fontana: Queria deixar um testemunho. Fiz um espetáculo Feliz Ano Velho, do Alcides Nogueira, baseado no livro do Marcelo Rubens Paiva. Conta a história do Marcelo. Quando adolescente, foi mergulhar num lago. Ele mergulhou, bateu a coluna e ficou tetraplégico. Conversando com o Marcelo, ele é uma pessoa alegre, feliz, divertida, alto astral. E na cadeira de rodas, com sensibilidade. Dirige carro adaptado. Se joga para o lugar do motorista. Com a boca, pega as pernas e coloca no lugar. Estava em Ribeirão Preto. Vimos um time de basquete de paraplégicos entrando no hotel. Convidamos para a peça e fomos. Na hora, o produtor veio dizer: vamos atrasar porque tem sete jogadores em cadeiras de roda. E o elevador só leva um por um. Fizemos um lindo espetáculo. Eles na primeira fila.

'Quando acabou, eles estavam na porta nos esperando. Um deles se dirigiu a mim e falou: Claudio, obrigado pelo espetáculo. Aprendi hoje que, apesar do meu acidente, eu posso ser feliz. Essa declaração me emociona até hoje e justifica o meu trabalho. Vale a pena. Só por esse jogador e essa emoção que ele sentiu. Por essa conclusão que ele poderia ser feliz vendo o meu trabalho. Vendo a história do Marcelo em cena. Então é isso. A arte é transformadora. E vale a pena'

Curiosidades Claudio Fontana ator

Neste artigo publicamos fotos do Instagram oficial do ator. Tem cenas históricas do teatro brasileiro. Tem cenas de novelas, filmes. Tem Claudio interpretando com a camisa do Flamengo. Mas uma última curiosidade: ele é torcedor da Sociedade Esportiva Palmeiras. Tem 1,71 metros de altura. E, para encerrar, não confundir com Claudio Fontana cantor (música Adeus, Ingrata); o cantor é de São Luís do Maranhão e a data de nascimento é 14 de junho de 1945.

Compartilhe com um amigo!

Publicado Por Silas Pereira
Jornalista e copywriter, Silas Pereira coleciona boas histórias para contar. Na área do entretenimento, joga no Cinema Nacional Futebol Clube. Estuda produções audiovisuais nacionais e abre debate com seus autores e realizadores. Para contato, siga @silaspereira no Twitter
Comentários