Biografia Antero Greco: Leia perfil do jornalista
A íntegra do capítulo Antero Greco, do livro 'Perfil: os craques do jornalismo esportivo', de JP Sardinha
Da Redação, publicado em 16/05/2024 e atualizado hoje.O livro 'Perfil: os craques do jornalismo esportivo', escrito por João Paulo Sardinha, tem um capítulo sobre Antero Greco. A seguir você confere o capítulo na íntegra. Nossa singela homenagem ao jornalista esportivo Antero Greco, que é natural de São Paulo - 2 de junho de 1954 | 16 de maio de 2024 (nos deixando aos 69 anos de idade). Para quem se inspira com a biografia de Antero Greco, temos aqui a nossa Wikipédia alternativa em OsPaparazzi.
Antero Greco em biografia
Você trabalha o dia inteiro. Logo pela manhã, enfrenta o trânsito congestionado, o elevador quebrado, a mesa cheia de papéis e reuniões intermináveis. O horário de almoço, quase sempre, transforma-se no momento de pagar contas e resolver problemas particulares. Quando retorna ao expediente, os e-mails se multiplicam e o chefe exige rapidez nas tarefas. Haja estresse!
Quando você chega em casa, só pensa em tomar banho, deitar na poltrona da sala e assistir televisão. Se sua rotina não for assim, provavelmente você conhece alguém que leve uma vida agitada como essa.
Ver o “Sportscenter” – jornal diário da ESPN Brasil – é a última coisa que muitas pessoas fazem antes de dormir. O programa, que começa às 23h, tem na bancada o apresentador Paulo Soares e o comentarista Antero Greco. O noticiário leva informação e bom humor aos telespectadores: mistura ideal para o fim de noite.
— Sempre deixamos claro que não somos humoristas. Nós somos jornalistas bem-humorados. É diferente. Quando quisermos fazer graça combinada, aí não vai dar certo. É preciso ter bom senso. Às 11 da noite não pode ser aquela coisa certinha e amarrada. É possível dar informação com transparência e seriedade sem ser sisudo. Você pode ser leve, sem ser leviano.
O atual formato do “Sportscenter”, com apresentador e comentarista, foi adotado no final de 1999. Naquela época, Luís Alberto Volpe apresentava o jornal e, a cada edição, ele dividia espaço com um jornalista diferente. Participavam do revezamento, os diversos analistas da ESPN Brasil.
Em 2000, o período da noite ficou mais tranqüilo para Antero. Em razão disso, ele assumiu o posto de comentarista ao lado de Volpe, que, pouco tempo depois, deu lugar a Paulo Soares.
— Entrou o Amigão (apelido de Paulo Soares) e, desde então, estamos juntos. Temos uma afinidade muito grande. Ele é a pessoa mais fácil para provocar o riso. É por isso que o programa dá certo.
Antero Greco, de 53 anos, ficou mais conhecido do público no “Sportscenter”. Ele, no entanto, está no jornalismo há mais de 30 anos. Começou a carreira no jornal O Estado de S. Paulo, como revisor de textos, passou pelo Diário Popular (atual Diário de S. Paulo) e foi correspondente de jornais italianos. Toda a trajetória foi construída na imprensa escrita, mas o reconhecimento do trabalho veio por meio da televisão.
— Gosto da mídia impressa. Gosto do cheiro de jornal. Gosto de lidar com a frase bem elaborada. Agora, o que dá destaque é a televisão. Quando fui contratado pela ESPN Brasil, o reconhecimento aumentou em 100 vezes. Você aparece em uma TV comunitária e mais gente vai te ver do que no jornal. É o fascínio da imagem. Quando ando pela rua, um monte de gente me conhece. Não é porque eu escrevo no Estadão, mas é pelo o que eu falei no “Sportscenter”. É um meio poderoso.
Maratona contra o relógio
— Estou em um ponto de cansaço bem grande, embora esteja há tempos nessa vida. Vai fazer 30 anos que trabalho com esportes. Durmo em média seis horas. Vai acumulando e chega uma hora que cansa.
E ainda dizem que jornalista não tem rotina!
Italiano de coração
“Amore mio”. “É vero”. “Ma che donna”. “Bambino mio”. Expressões como essas são populares em São Paulo. A cidade é o principal reduto de imigrantes italianos no Brasil. Os tradicionais bairros da Mooca e do Bixiga acolheram, no início do século 20, cidadãos que buscavam melhores condições de vida em solo tupiniquim.
O Bom Retiro, além da comunidade italiana, também abriga judeus, coreanos, chineses e bolivianos. Os pais de Antero Greco, imigrantes italianos, escolham o bairro para construir a vida.
— Sou filho de imigrantes salernitanos. Meus pais batalharam muito para fazer com que eu estudasse. Nasci no querido Bom Retiro, lugar onde tenho uma ligação profunda. Hoje moro no Sumaré, mas tenho guardadas no coração minhas origens.
Filho de quitandeiro, nasceu na própria casa, na rua Tenente Pena. A residência não existe mais. No lugar, foi construído um prédio comercial. Mesmo assim, o cheiro das ruas ainda o seduz.
As lembranças do Bom Retiro são tão boas que, às vezes, Antero as utiliza como terapia. Quando sai chateado do jornal ou da TV, ele passa pelo bairro e relembra os momentos da infância. É o suficiente para esquecer os problemas.
Ser descendente de italiano é um orgulho para Antero Greco, que, por amar a Itália, sempre gostou de escrever sobre o futebol daquele país. O jornalista se recorda, por exemplo, de quando trabalhou no Mundialito do Uruguai, mini-campeonato que reuniu a maioria das seleções campeãs da Copa do Mundo.
O Estadão enviou uma equipe para acompanhar o torneio. Antero foi junto com os repórteres Eduardo Savóia, Vital Battaglia, Fausto Silva, Tuca Pereira de Queiroz e Sergio Baklanos.
Por ser o mais jovem, Antero se responsabilizou pela cobertura de todas as seleções, menos a brasileira. O trabalho era bastante complicado, mas o jornalista se deu bem. Prova disso aconteceu na partida entre Itália e Uruguai, em que os europeus foram derrotados por 2 a 0.
O técnico italiano, Enzo Bearzot, estava furioso com a arbitragem. O comandante falou rapidamente na coletiva de imprensa. Os repórteres italianos, insatisfeitos, solicitaram nova entrevista e, após certa confusão, o assessor de imprensa da seleção liberou a entrada nos vestiários.
Antero tentava entrar, mas era barrado pelo assessor. O brasileiro, então, apelou para a origem. Em bom italiano, o jornalista reclamou: “Ma anch’io ho bisogno di lavorare!” (“Mas eu também tenho de trabalhar!”).
— O cara olhou para mim e pensou: “esse eu não conheço, mas está falando italiano, então passa”. Lá dentro o técnico da Itália meteu o pau em todo mundo. No outro dia, somente Estadão e Jornal da Tarde deram essa notícia.
A atitude de Antero chamou a atenção dos repórteres italianos. Angelo Pesciaroli, do Corriere dello Sport, convidou o brasileiro para ser correspondente no jornal:
— Nesse Mundialito, no Uruguai, estava começando a febre de contratações dos jogadores brasileiros. Falei que eu não escrevia legal em italiano, mas ele disse que não tinha problema. Em 13 anos na função, desenvolvi bem meu italiano falado e escrito. Eu tinha boas fontes na Itália.
A função de correspondente no jornalismo esportivo, assim como em outras editorias, tem particularidades. Escrever sobre futebol brasileiro para o público italiano exige mais detalhamento dos assuntos.
— Era preciso imaginar que as coisas que para nós eram conhecidas, para eles não eram. Falar do Telê Santana no Brasil, por exemplo, dispensa explicações. Lá tinha que dizer que ele havia sido técnico da Seleção Brasileira, em 1982. A construção de frases também é diferente. Eu apanhava um pouco na hora de racionar para escrever, mas foi bom demais.
E aí, fera!
Antero Greco dispensa a amizade com jogadores e dirigentes esportivos. Ele trata as personalidades com gentileza e educação, mas evita criar intimidade. Esse distanciamento, na visão do jornalista, favorece na hora da crítica.
— Se o cara está falando com você, é porque você representa um veículo. E se você está falando com ele, é porque ele representa um clube. Acho que não se devem ter laços de amizade. Com jogador menos ainda. No meio esportivo, eu não tenho amigos.
O jornalista alerta que muitos atletas tentam se aproximar para, no futuro, ganharem as manchetes dos jornais ou serem poupados de críticas. Quando trabalhava na função de repórter, Antero tinha mais contato com jogadores e dirigentes e, mesmo assim, recusava “paparicos”.
— Não é que eu despreze essas pessoas, mas não tem cabimento. Pelo fato de eu ter origem italiana, um dirigente do Palmeiras falava: “Antero, você que é nosso”. Eu respondia: “Nosso? Espera aí, quem paga meu salário é o Júlio Mesquita”. Assim é que se ganha respeito com os caras. Fico com uma raiva quando vejo o jogador falar “e aí, fera”. Não gosto dessa tentativa de criar intimidade.
Antero também evita qualquer ligação com entidades esportivas ou empresas do ramo. Caso receba convite para escrever em uma revista da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), por exemplo, ele recusa imediatamente. Essas instituições são objetos do trabalho jornalístico e, portanto, o jornalista prefere não aceitar.
Os repórteres do Estadão, enquanto forem chefiados por Antero, serão obrigados a adotar postura semelhante. Quando recebem propostas para escrever em outras publicações, sempre consultam o editor de Esportes.
— Se for convidado a escrever para uma revista de variedades, aceito. Mas se a Fifa, o Palmeiras ou o Corinthians pedirem, não. É antiético. Não importa se o jornalista ganha mal ou é para completar o salário.
Todas essas medidas, na opinião dele, dão credibilidade à imagem do profissional e evitam o chamado “rabo-preso”. Ele afirma que existem muitos jornalistas que são vistos como modelo bem-sucedido, mas, no fundo, exercem a profissão da pior maneira possível. São “picaretas com maior ou menor grau de sofisticação”.
— O que nós temos é a honra. Perdeu, dançou. A partir do momento que você é visto como um cara de esquema, aí você não consegue mais limpar a imagem. É opção de vida. Dá para batalhar e ganhar dinheiro fazendo o que sabemos.
Postura de Editor
A Seleção Brasileira masculina de basquete disputou, em agosto de 2007, o Pré-Olímpico de Las Vegas, nos Estados Unidos. Comandada pelo técnico Lula Ferreira, a equipe brigava por vaga nas Olimpíadas de Pequim, no ano seguinte. Depois de fazer campanha irregular, o time naufragou diante dos argentinos, na fase semifinal.
Durante o campeonato, a repórter Valéria Zukeran, do Estadão, escreveu que o clima estava tenso entre os atletas. Alguns, inclusive, estavam insatisfeitos com as decisões da comissão técnica.
Quando a matéria foi publicada, os jogadores se revoltaram. Guilherme e Marcelinho Huertas foram pressionar a jornalista, que tinha conseguido a informação graças a uma fonte mantida em sigilo. O episódio teve grande repercussão no noticiário brasileiro. Alguns atletas evitaram dar entrevistas nos jogos seguintes, pois consideraram o texto irresponsável.
A postura independente, adotada nas coberturas esportivas do Estadão, tem o dedo de Antero Greco. O editor assumiu a função em setembro de 2006 e, desde então, orienta os repórteres a terem postura crítica.
— Jornal não pode ser uma ação entre amigos. Ser crítico significa ter distanciamento suficiente até para elogiar. Mas, claro, o que chama atenção é aquilo que foge à norma. A gente acaba tendo, para algumas pessoas, uma postura mais agressiva. Têm entidades, ou pessoas, que acham que deixamos de ser o Estadão. Na verdade, continuamos a ser o jornal, mas com uma postura diferente. Nossa característica é ser mais “cri-cri”.
Apesar de investir mais na qualidade das reportagens, o caderno de Esportes do Estadão ainda precisa melhorar. Antero sente falta, por exemplo, de grandes textos e perfis bem elaborados. Hoje os jornais impressos publicam matérias breves e “internéticas”.
— Sinto falta da investigação. É uma falha nossa. Virou coletiva. É preciso ter no jornalismo esportivo mais gente bem preparada e com vocação para fuçar e levantar os assuntos escabrosos e cabeludos. Mas também não dá para fazer todos os dias, porque fica cansativo. A emoção deve ser levada em conta.
A dificuldade encontrada por alguns jornais, entretanto, é transformar assuntos importantes em interessantes para o leitor. Reportagens investigativas, em muitos casos, utilizam-se de vocabulário bastante técnico. Em razão disso, o público se desinteressa pela leitura.
A linguagem, explica, deve ser clara e acessível em qualquer matéria, seja ela publicada pelo Estadão, pelo Extra ou pelo Agora. Para contar uma história complicada, em palavras simples, é preciso ter preparo, treino e atenção.
— Sempre falo para os repórteres: “leia o que você escreveu. Você, no papel de leitor, entende o que está escrito? Tem dúvidas? Se houver é porque não está claro”. Costumo dizer, aos formados e estudantes, para prestarem muita atenção no que dizem e no que escrevem. É preciso ser crítico com você mesmo e não ter vergonha. A busca pela simplicidade na linguagem tem que ser obsessiva.
Dicas aos repórteres é dever do editor. Mas o perfil ideal de chefe, porém, Antero ainda desconhece. O jornalista tenta demonstrar seriedade e, ao mesmo tempo, descontração.
— Tenho que ser chefe, no sentido de cobrar e exigir. Mas, às vezes, dou uma de pai: chamo, converso em um canto, vejo o que está acontecendo. É igual ao técnico de futebol, que entende quando o cara está dando um “migué”. Assim como jogador simula contusão, o repórter fala que a pauta não rendeu. Você sabe quando é mentira, quando é papo furado. É um exercício diário. Ainda estou procurando o perfil ideal de um editor.
Homenagem Antero Greco
No vídeo acima, temos a homenagem da ESPN Brasil para Antero Greco. Nossos sentimentos aos familiares, amigos e fãs. E nosso agradecimento ao jornalista João Paulo Sardinha, que nos cedeu gentilmente o capítulo 'Antero Greco' do livro 'Perfil: os craques do jornalismo esportivo'.