Doutor Castor: Saiba por que vale assistir

Assisti ao documentário Doutor Castor (2021), disponível na Globoplay. Neste artigo seleciono as principais críticas ao filme. E também destaco as principais perguntas que ficam no ar após maratonar os quatro episódios. Vale a pena assistir Doutor Castor. A seguir explico os porquês.

Doutor Castor conta a história do poderoso chefão do jogo do bicho do Rio de Janeiro. Chama-se Castor de Andrade. Ele usou o futebol e o Carnaval para legitimar sua imagem. Quem se lembra do poderoso time do Bangu Atlético Clube? A equipe viveu seu auge com o dinheiro de Castor. Sedutor, carismático e violento. Quem foi Castor?

A direção é de Marco Antonio Araújo. Com roteiro de Marco Antonio e Rodrigo Araújo. O documentário ganhou destaques na programação esportiva da Rede Globo. Com trailers divulgados em Globo Esporte e Esporte Espetacular.

São quatro episódios disponíveis na Globoplay. Nos tempos da malandragem (apresentando o chefe do bicho em Bangu nos anos 80); Sonhar com rei dá leão (a Cúpula do Jogo do Bicho é apresentada com samba e futebol); Capo de tutti capi (o Poderoso Chefão. Bangu na Libertadores? Mocidade campeã do Carnaval do RJ?); encerrando com o episódio Todo carnaval tem seu fim (com a Justiça aparecendo e afastando Castor do Bangu e da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel).

Críticas Doutor Castor

Na lista de críticas do documentário, começamos com o Adoro Cinema. Os usuários do portal deram nota 3.3 estrelas (a nota 5 é a máxima). No site Filmow a nota é de 4.7 estrelas (também com 5 como máxima). OsPaparazzi classifica o documentário com 5 estrelas, como ótimo. Porém temos ressalvas de questionamentos que ficaram no ar.

Esses questionamentos ganharam destaque na coluna de Maurício Stycer na Folha de SP. O crítico quer saber: por que Jô Soares e José Bonifácio, o Boni, não se manifestaram sobre seus relacionamentos à época com o Doutor Castor? Boni e Castor eram amigos próximos. Boni então poderoso chefão da Rede Globo. O mestre da TV brasileira e pai de Boninho. Já Jô Soares entrevistou Castor com carinho e afeto em seu programa no SBT.

'A contribuição da mídia é vista o tempo todo, embora pouco discutida. Da profusão de reportagens e entrevistas com Castor para a TV, utilizadas pelo documentário, sobressai o tratamento reverencial ao contraventor, visto sempre como um sujeito engraçado, brincalhão, boa praça e generoso', diz o crítica Stycer.

Boni, Globo e Jô Soares com Castor

A crítica da Folha continua: essa exposição na TV Globo, por exemplo, 'não seria possível sem a omissão ou o consentimento em outros níveis na hierarquia das empresas de comunicação'.

'José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, diretor-geral da Globo entre 1977 e 1997, era amigo de Castor e o visitou na prisão. O ex-executivo se justifica no documentário: `Eu não sou juiz nem nunca fui delegado. Pra mim, o jogo do bicho é apenas uma contravenção. Criminosos eram as pessoas que estavam no governo`, declarou Boni no doc'

A entrevista de Jô Soares com Castor foi realizada em 1991 no SBT. Uma das perguntas relembrava um assalto que Castor teria sofrido. Depois vem a resposta: 'Dei uma sorte muito grande que ele me reconheceu e pediu desculpas'. Jô Soares e Castor aparecem rindo após essa resposta. O diretor de jornalismo da Rede Globo também comentou o documentário Doutor Castor:

'É o retrato de uma época (...) estou aqui com um gângster do meu lado, ele está dizendo que é temido por todo mundo (...) Vamos rir dessa situação', declarou Ali Kamel.

Mas Stycer discorda.

'A condescendência com figuras poderosas é um fenômeno atemporal', conclui Maurício Stycer, na Folha.

São reflexões importantes dessa época de ditadura militar, jogo do bicho, carnaval e futebol. Por que a Globo paparicava tanto esses poderosos chefões? Como eles conseguiram tanto destaque na mídia com sorrisos e como se tudo estivesse bem? Era a lei sendo quebrada. A Justiça sendo escondida. E não tínhamos o tratamento profissional e correto que seria necessário.